quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Pôr do sol é pores do sol e nascer do sol É...

O leitor Eduardo Roque envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Por gentileza, se o plural de pôr do sol é pores do sol, como fica o plural de 'nascer do sol'? Grato"

1) Um leitor, partindo do princípio de que o plural de pôr do sol é pores do sol, indaga como fica o plural de "nascer do sol".

2) Para um entendimento mais didático da questão, parte-se de observações sobre pôr do sol, para, em continuação, tecer considerações específicas concernentes à dúvida trazida pelo leitor.

3) Com as alterações introduzidas em nosso sistema pelo Acordo Ortográfico de 2008, é oportuno observar como fica, quer quanto ao hífen, quer quanto ao acento gráfico, a escrita da expressão: pôr-de-sol, por-de-sol, pôr de sol ou por de sol?

4) Como é de fácil percepção, deve-se partir a questão em dois aspectos: a) o primeiro elemento da expressão continua com o acento circunflexo ou o perdeu?; b) há hífen para separar os elementos da expressão ou não?

5) Num primeiro aspecto, anota-se que, antes das recentes mudanças em nossa ortografia, a regra era acentuar a forma verbal pôr, para distingui-la da preposição por.

6) A explicação para essa ocorrência era que o verbo configurava uma forma tônica, enquanto a preposição, uma forma átona, de modo que se empregava, assim, na primeira, um acento diferencial de tonicidade.

7) Pois bem. Esse acento foi expressamente mantido pelo Acordo Ortográfico de 2008, como se pode conferir nos seguintes exemplos: a) "O trabalho foi feito por ele" (preposição); b) "É preciso pôr os pingos nos is" (verbo).

8) Num segundo aspecto, antes das recentes mudanças, havia, sim, o hífen para separar os elementos de tal palavra, de modo que a escrita correta era pôr-de-sol (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2004, p. 638).

9) O Acordo Ortográfico de 2008, mantendo raras exceções já consagradas pelo uso, eliminou o hífen das locuções substantivas.

10) No rol desses vocábulos em que se eliminou o hífen, acha-se a locução pôr de sol, como se pode comprovar no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2009, p. 668).

11) Vejam-se, desse modo, os seguintes exemplos, com a indicação de sua correção ou erronia entre parênteses: a)"Dificilmente haverá um pôr-de-sol como aquele" (errado); b) "Dificilmente haverá um pôr de sol como aquele" (correto); c) "Dificilmente haverá um por-de-sol como aquele" (errado); d) "Dificilmente haverá um por de sol como aquele" (errado).

12) Apenas para ilustração complementar, frisa-se que o plural de pôr de sol é pores de sol.

13) Quanto à expressão nascer do sol, no que toca à correta grafia, o certo é que, já antes do Acordo Ortográfico de 2008, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa não a registrava com hífen, de modo que continua grafada exatamente do mesmo modo: nascer do sol.

14) E, no que respeita ao plural da mencionada expressão, segue ela o mesmo raciocínio do outro circunlóquio já analisado: nasceres do sol.

Fonte: Migalhas.

 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Mister e Outrem - Como pronunciar?

José Maria da Costa

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

 

O leitor Fernando Burkert Pelachini Valle envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Peço encarecidamente ao dr. José Maria da Costa que me esclareça qual a pronúncia correta dessas duas palavras: outrem e mister. Já ouvi diversas pessoas as pronunciarem de forma diferente quanto à sílaba tônica. A meu ver, a pronúncia deveria ser "ôutrem" e "míster", mas é comum ouvir pronunciarem como "outrém" e "mistér". Qual a forma correta?"

1) Um leitor pede se esclareça qual a pronúncia, em nosso idioma, das palavras outrem e mister.

2) Inicia-se esta resposta com a observação de que, entre nós, a Academia Brasileira de Letras é o órgão incumbido, por delegação legal, de definir a existência, a grafia oficial, a pronúncia, o gênero e as peculiaridades dos vocábulos de nosso idioma. E ela, para atender a essa autorização legal, o faz oficialmente pela edição, de tempos em tempos, do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Mais modernamente, ela também tem disponibilizado em seu site, pela internet, o rol dessas palavras e expressões.

3) Com essa anotação como premissa, segue-se dizendo, num primeiro plano, que uma consulta à referida obra mostra que nela se registra exclusivamente outrem, não havendo o registro de outrém.1

4) E isso significa que, pela própria grafia oficialmente aceita do mencionado substantivo, sua pronúncia apenas pode ser ôutrem, jamais outrém (os acentos gráficos foram postos para indicar a localização da sílaba tônica, mas é certo que eles não são utilizados no vocábulo em discussão).

5) Quanto ao segundo vocábulo da pergunta do leitor, a mesma obra apresenta tão somente a grafia mister2, e, como o próprio VOLP faz questão de observar para não haver dúvidas, sua pronúncia é indicada entre parênteses do seguinte modo: (é). Vale dizer, pronuncia-se como mistér, de modo que o vocábulo rima com um conhecido utensílio de mesa, a colher, ou mesmo com Ester.3

6) Tal palavra tanto pode ser substantivo (significando necessidade, ocupação ou trabalho), como adjetivo (com a acepção de necessário, preciso ou urgente). Exs.: (i) "Ocupava-se ele com os misteres da advocacia" (substantivo); (ii) "Era mister coibir a deslealdade processual" (adjetivo).

7) Acrescenta-se, por fim, que o vocábulo inglês mister (significando senhor), cuja pronúncia, sim, é míster, não pertence ao nosso idioma, motivo pelo qual, se houver necessidade de seu emprego em texto vernáculo, então, seguindo a grafia da língua original, deve ser escrito sem acento e, entre nós, por não pertencer ao nosso léxico, deve ser grafado em itálico, em negrito, entre aspas ou sublinhado, para indicar exatamente essa circunstância de não pertencer a nossa língua.

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1 Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Imprinta, 2004, p. 606.

2 Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Imprinta, 2004, p. 555.

3 BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 19. ed., segunda reimpressão. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974, p. 58.

Fonte: Migalhas.